Ler nem sempre é compreender
Temos manifestado, em nossos vários artigos, preocupação quanto ao alto índice de desinteresse dos brasileiros pela leitura, o que deixa o Brasil em desvantagem em relação a outros países. Mas ler, ainda assim, não é tudo. É preciso ter em mente que ler nem sempre é compreender. E, quanto menos se lê, menos se compreende, obviamente.
Existe algo muito inquietante, que é conhecido como analfabetismo funcional. As pessoas se acham alfabetizadas porque conseguem ler. E se dão por satisfeitas. Até que um dia, para citar apenas uma situação, se submetem a uma prova e não conseguem, sequer, interpretar o enunciado das questões.
O Brasil ainda possui um alto índice de analfabetismo funcional. Isso significa que muitas pessoas conseguem decodificar as palavras, mas não têm a capacidade de compreender e interpretar textos.
É inadmissível que muitos representantes do poder público ainda não entendam que aplicação de verbas na cultura e no ensino tem que ser caracterizada como investimento. E há, até, quem ironize quando se diz isso.
Pior é não perceberem que não investir em educação e cultura significa despesa.
Significa ter um expressivo número de pessoas incapazes de se capacitarem como mão de obra qualificada para enfrentar os desafios cada vez maiores em âmbito global.
Significa manter o Brasil no atraso, com imensas parcelas da população ignorantes quanto à sua própria incapacidade de progredir e, consequentemente, de fazer com que o Brasil saia do atraso em inúmeros setores.
Ler sem compreender aos 15 anos de idade
Segundo dados do Instituto Paulo Montenegro e da ONG Ação Educativa, divulgados em 2020, cerca de 28% da população brasileira com mais de 15 anos de idade é considerada analfabeta funcional.
Isso significa que essas pessoas têm dificuldades em compreender textos simples, fazer operações matemáticas básicas e interpretar gráficos e tabelas.
Outro estudo, divulgado em 2019 pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), mostrou que cerca de 50% dos estudantes brasileiros com 15 anos de idade não conseguem compreender adequadamente um texto básico.
Isso coloca o Brasil em uma posição muito desfavorável em relação a outros países que participaram do estudo.
Esses índices alarmantes de analfabetismo funcional têm graves consequências para o desenvolvimento socioeconômico do país.
A falta de habilidades de leitura e interpretação limita as oportunidades educacionais e profissionais das pessoas, além de prejudicar a participação cidadã e a tomada de decisões informadas e esclarecidas.
É fundamental que sejam tomadas medidas para combater o analfabetismo funcional no Brasil, incluindo a melhoria da qualidade da educação básica, o investimento em programas de alfabetização e a promoção da leitura como ferramenta de desenvolvimento pessoal e social.
Pesquisas comprovam que consequências são dramáticas
Uma das pesquisas mais conhecidas sobre o assunto é o estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2013, chamado Skills Outlook.
Esse estudo analisou a relação entre habilidades cognitivas, incluindo a leitura, e o desempenho econômico de 24 países da OCDE.
Os resultados indicaram que um aumento de 1% no nível de habilidades cognitivas da população de um país pode aumentar em até 2,5% o PIB per capita desse país no longo prazo.
Outro estudo relevante é o Relatório Mundial de Desenvolvimento de 2018: Aprendizagem para Realizar a Promessa da Igualdade, do Banco Mundial.
O relatório enfatiza que a habilidade de leitura é fundamental para a aquisição de outras habilidades importantes, como a matemática e a resolução de problemas, que são essenciais para o sucesso na vida adulta.
O relatório também destaca que a falta de habilidades básicas de leitura pode ter efeitos negativos no desenvolvimento socioeconômico de um país, incluindo o aumento da desigualdade e a perpetuação da pobreza.
Além desses estudos, há diversas outras pesquisas e levantamentos que mostram a importância da leitura para o desenvolvimento pessoal e socioeconômico de um país.
Tais estudos geralmente enfatizam que a habilidade de leitura não só aumenta as oportunidades educacionais e de trabalho, mas também melhora a saúde e o bem-estar mental, além de ser fundamental para o engajamento cívico e a tomada de decisão consciente.
Portanto, é importante que governos e sociedades incentivem a leitura e o desenvolvimento de habilidades cognitivas em sua população, para que possam desfrutar de um futuro mais próspero e igualitário.
Falta apenas que, aparentemente vítimas dessa mesma incapacidade cognitiva, autoridades passem a compreender o óbvio, fazendo a leitura correta de algo que mantém o Brasil no atraso.
Falta-nos entender até quando ira persistir a incompreensão de que ler nem sempre é compreender.
E de que ler sem compreender é sinônimo de atraso.
E de enormes prejuízos para o Brasil e os brasileiros, de um modo geral.
Sobre o Autor
0 Comentários