Diferença entre crítica e mera opinião
Em recente entrevista, o ator Marco Nanini admitiu que lê as críticas sobre seu trabalho, mas que aprendeu também a criticar as críticas e os críticos. Certamente, Nanini já descobriu a diferença entre crítica e mera opinião.
A crítica no Brasil (aliás, como tudo neste país relacionado a cultura e artes de um modo geral) tem que ser levada a sério. Porque há uma grande diferença entre crítica e opinião, mas nem todos sabem, nem percebem isso.
Quem comparece a um jornal, por exemplo, onde há a chamada Editoria de Cultura, com a presença apenas de repórteres e de redatores, já percebeu a distorção com que é interpretado o termo crítica.
Sem embasamento técnico, teórico ou de formação acadêmica na respectiva área, os repórteres e redatores parecem estar convencidos de que fazer crítica se resume a criticar no sentido de sempre ser contrário à obra ou ao autor, ou seja: a não fazer nenhuma diferença entre crítica e mera opinião do respectivo repórter e/ou redator.
Sinto-me à vontade para relatar uma experiência que eu vivi por ocasião do lançamento do meu livro A Suíte é Minha, Lambisgoia.
Na redação do jornal, fui fotografado em vários ângulos e em seguida atendido por uma repórter, que me fez algumas perguntas rápidas e logo depois me pediu que lhe fornecesse o número do meu celular para que ela pudesse, antes de completar a entrevista, ler o livro.
Coincidentemente, este é – de todos os meus livros escritos até agora – o mais volumoso, com 415 páginas.
Pouco tempo depois, a referida repórter me telefonou e insistiu em me perguntar se não seria um estereótipo usar termos para me referir aos personagens.
Como eu já lhe havia explicado por ocasião da rápida conversa que tivemos na redação do jornal, repeti que não quis dar nome aos personagens, razão pela qual nominei cada um deles valendo-me dos termos que apenas definiam os respectivos perfis desses personagens.
Enfatizei, ainda, o caráter irônico e, mesmo, mordaz que, intencionalmente, dei a todo o desenrolar do romance.
Ou seja: não eram estereótipos, mas perfis bem definidos, conforme as características de alguém a quem não se atribui um nome.
E todo esse relato, no livro, sempre permeado pelo tom irônico, mordaz e até mesmo humorístico em várias passagens do texto.
No dia seguinte percebi que a repórter deu à matéria um título igualmente irônico, do tipo: É, mas não é.
Referia-se, obviamente, à minha explicação sobre a escolha dos perfis.
E, no trecho em que deu à matéria um claríssimo viés de manifestação crítica, insistiu em dizer que eu me servia de estereótipos para me referir aos personagens.
Ao ler a matéria, uma das certezas que eu tive foi a de que ela estava confundindo crítica com sua mera opinião.
A outra certeza foi de que ela não poderia ter lido o livro no pouco tempo decorrido até me telefonar. O que não era uma opinião, mas uma crítica (risos).
Anos se passaram e recolhi agora a grande lição de Nanini: leia a crítica, mas sempre com o cuidado de dar à leitura um olhar crítico…
Há grande diferença entre crítica e mera opinião
A diferença entre uma simples opinião e uma crítica é que a crítica é uma avaliação fundamentada e embasada em conhecimento e referências específicas.
A crítica tem como objetivo analisar, interpretar e avaliar uma obra de arte, literatura, cinema, música ou qualquer outra forma de expressão cultural de forma aprofundada e informada.
Já a opinião é uma impressão ou julgamento pessoal sem uma justificativa ou análise mais elaborada.
Para se tornar um bom crítico de arte, literatura, cinema ou qualquer outra forma de expressão cultural, é preciso ter uma formação sólida na área em questão.
Além disso, é fundamental ter conhecimento de história da arte, teoria da literatura, teoria do cinema e outras disciplinas relacionadas.
E é importante também ter uma boa capacidade de comunicação, tanto escrita quanto verbal, para poder expressar de forma clara suas análises e argumentos.
Seguem alguns requisitos que um bom crítico deve ter
Conhecimento: Um crítico deve ter um conhecimento profundo da arte, literatura, cinema ou qualquer outra forma de expressão cultural que esteja avaliando.
Habilidade de análise: Um crítico deve ser capaz de analisar e interpretar a obra em questão de forma aprofundada, identificando temas, simbolismos, técnicas e outras características importantes.
Habilidade de comunicação: Um crítico deve ter a capacidade de comunicar suas análises de forma clara e persuasiva, seja por meio da escrita ou da fala.
Referências: Um bom crítico deve ter conhecimento de outras obras e autores que possam servir de referência para sua análise.
Abertura: Um crítico deve estar aberto a diferentes opiniões e interpretações, mesmo que discordem da sua própria análise.
Experiência: A experiência é fundamental para aprimorar a habilidade de análise e de comunicação do crítico, além de lhe proporcionar um olhar mais apurado e refinado.
Quem é respeitado no mundo da crítica. E por que
Existem muitos críticos de literatura respeitados internacionalmente. Aqui estão alguns exemplos:
Harold Bloom: crítico literário americano conhecido por seus estudos sobre Shakespeare, bem como por sua teoria literária do cânone ocidental.
James Wood: crítico literário britânico conhecido por seus ensaios sobre literatura contemporânea, incluindo romances de autores como Don DeLillo, Zadie Smith e Kazuo Ishiguro.
Susan Sontag: crítica literária americana, ensaísta e ativista conhecida por seus ensaios influentes sobre fotografia, arte e cultura popular.
Edward Said: crítico literário palestino-americano que se destacou por seus estudos sobre literatura e cultura pós-coloniais, bem como por sua teoria do orientalismo.
Gayatri Chakravorty Spivak: crítica literária indiana-americana, conhecida por seus trabalhos sobre pós-colonialismo, feminismo e teoria crítica.
Roland Barthes: crítico literário e teórico francês conhecido por seus estudos sobre semiótica e teoria literária, incluindo A Morte do Autor.
Northrop Frye: crítico literário canadense conhecido por suas teorias sobre a literatura e a mitologia, bem como por sua teoria da crítica literária.
Esses são apenas alguns exemplos de críticos literários respeitados internacionalmente.
Mas, evidentemente, há muitos outros em todo o mundo que contribuem para a análise e a interpretação das obras de arte, incluindo a literatura.
Para isso é preciso estar dotado de todos os requisitos acima mencionados.
Por exemplo: se eu não entendo absolutamente nada de pintura a óleo, como vou me atrever a fazer uma crítica de um quadro pintado a óleo?
O máximo que posso fazer é dizer se gostei ou não, com base – obviamente – no meu gosto pessoal.
O que é um direito meu.
Mas jamais irei publicar essa mera opinião como se fosse crítica.
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