Inteligência Artificial substitui o escritor?
Um dos assuntos mais comentados na internet é o ChatGPT. E uma das questões mais comentadas é se a Inteligência Artificial substitui o escritor.
Para quem ainda não conhece, o ChatGPT possibilita que você obtenha (ou crie) textos e imagens por meio da chamada Inteligência Artificial.
Ou seja: você emite uma ordem e a plataforma apresenta o que seria o resultado já elaborado, conforme o seu desejo.
Professores de ensino superior estão entre os que já entraram na discussão sobre se a Inteligência Artificial substitui o escritor ou o criador de uma manifestação ou arte.
Trabalhos acadêmicos, e até teses de mestrado e doutorado, poderão ser produzidos por intermédio dessa plataforma?
Como saber se esses textos foram produzidos pelos alunos ou se resultam da Inteligência Artificial?
E como ficam os escritores?
Recebi em meu e-mail um texto, em Inglês, do escritor e artista plástico Derek Murphy, e tive o impulso inicial de deletá-lo. Primeiro, porque não sou exatamente versado em Inglês. E, segundo, porque me pareceu (em princípio) uma mensagem invasiva, pois não sei onde Derek Murphy obteve um dos meus endereços de e-mail.
Mas resolvi dar uma lida rápida, com o auxílio do santo tradutor do Google, quase perfeito para momentos como esse.
Eis alguns trechos (mal traduzidos, perdoem-me) do que Derek Murphy me enviou:
Em 1953, Roald Dahl escreveu um conto, chamado O Grande Grammatizador Automático, sobre uma máquina de escrever. Você deveria lê-lo, porque é muito oportuno, mas aqui está o final distópico:
E o pior ainda está por vir. Hoje, à medida que o segredo se espalha, muitos outros correm para se relacionar com o Sr. Knipe. E o tempo todo o parafuso fica mais apertado para aqueles que hesitam em assinar seus nomes.
(…)
Basicamente, quando a escrita de IA for – como é agora – tão bem-sucedida, que todo escritor vivo deve embarcar ou morrer de fome. É um aviso severo e terrível contra esse tipo de tecnologia. Mas não porque a escrita é ruim. Porque é boa demais.
2023 é o ano da IA…
E prosseguiu:
Tenho certeza de que você já viu discussões sobre chatGPT3 em grupos de redação. E de que, provavelmente, tem algumas opiniões fortes sobre isso. Já vi uma tonelada de vídeos e cursos sobre como escrever e publicar um livro em uma hora.
Você provavelmente já ouviu coisas como ‘abrace a IA ou seja substituído!’(…) Então, acabei de postar uma grande lista de previsões de publicação para 2023. Há algumas coisas interessantes lá (tais como a arte da IA foi prevista para chegar em 2023 … cem anos atrás!) Então leia quando tiver um momento…
Efetivamente, surge um terreno fértil para o debate sobre como distinguir entre o texto de um Autor e aquele produzido pela Inteligência Artificial.
Atrevo-me a dizer que, pelo menos por ora, dá para saber a diferença.
Como escritor, articulista e também pesquisador e produtor de conteúdo para o YouTube, tenho visto a alardeada (ou suposta) utilidade das plataformas que “produzem vozes humanas”.
Não é a sua voz. Você redige o texto, escolhe entre a voz feminina ou masculina… e a Inteligência Artificial, após você também determinar qual seria o locutor, simula a locução.
Insistem os defensores desses sites em dizer que “a voz sai perfeita”. Mas isso não é totalmente verdade. A “voz” até pode “parecer” humana, mas a inflexão, a entonação, o ritmo, a pronúncia, denunciam a existência de uma máquina por detrás daquela produção.
Pode uma máquina reproduzir fielmente um sentimento, se não o possui? Pode desmecanizar a sensibilidade humana? Pode camuflar a verdade de um texto produzido por uma máquina no lugar de um ser humano?
Bom, é verdade que todas essas reflexões também podem ser questionadas.
Afinal de contas, muitos humanos estão cada vez mais se desumanizando. E há os que até transam com robôs.
Os que ainda não chegaram a esse ponto jamais deixaram de ver e sentir a diferença entre uma boneca inflável, ou robotizada, e uma mulher de verdade.
Atrevo-me, portanto, a responder a Derek Murphy: tudo depende de quem lê ou vê. Ou de quem consome o que foi produzido. Ou da pessoa que se deita com uma mulher.
De nossa parte, a única recomendação é a de que, se você não pretende produzir literatura robotizada, mas anda sem muita imaginação, utilize o ChatGPT apenas como esboço ou espinha dorsal que lhe proporcione o pontapé inicial para algo que seja um livro de verdade. Produzido por um escritor de verdade.
Dependendo de quem ler, vai ser fácil saber.
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