Um Brasil que não lê

Essa expressão – um Brasil que não lê – aponta para um cenário que tem se ampliado de forma preocupante, a cada ano. E é indispensável identificar as várias razões e apresentar questionamentos.

Antes de mais nada, é preciso registrar que pesquisas recentes indicam que a leitura de livros no Brasil tem diminuído significativamente.

De acordo com a 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em novembro de 2024, 53% dos brasileiros não leram nem sequer parte de um livro nos três meses anteriores a essa pesquisa.

Estamos, assim, diante do maior percentual de não-leitores já registrado na série histórica do levantamento, que começou em 2007.

Além disso, é preciso acrescentar outra revelação desalentadora da pesquisa: o número de leitores caiu em quase 7 milhões nos últimos quatro anos.

Também ficou constatado que, considerando apenas livros inteiros lidos, apenas 27% dos brasileiros completaram uma leitura no período analisado.

A queda no hábito de leitura foi observada em todas as faixas etárias e classes sociais. A exceção está apenas nos grupos de 11 a 13 anos e de 70 anos ou mais, que mantiveram seus índices de leitura.

Um Brasil que não lê ou lê muito pouco

Como incentivar a leitura em um Brasil que não lê

Já citamos mais de uma vez, em nossos inúmeros artigos, uma das principais razões que transformam nosso país nesse Brasil que não lê.

Essa razão foi apresentada de forma realista pelo escritor João Ubaldo Ribeiro (1941-2014), numa entrevista em que se referiu ao uso de um de seus livros para uma prova de vestibular.

Ele contou que as perguntas sobre o livro eram tão enigmáticas que nem ele, o próprio Autor, saberia responder.

Com isso, João Ubaldo Ribeiro, um escritor premiado, confirmou uma das razões pelas quais o Brasil se transformou em um país que não lê: a mania de transformarem a literatura em algo simplesmente insuportável.

As perguntas do vestibular eram indecifráveis. Assim como é indecifrável que, em relação às escolas, muitas pessoas ainda não percebam que o ponto principal é cultivar, primeiramente, o hábito da leitura.

E como se consegue isso? Deixando que o próprio aluno, no início de seu contato com os livros, escolha o que quer ler.

Porque é assim que ele vai criar o hábito. E a partir daí (ensinou-nos um antigo professor de Literatura) passará a ler tudo o que lhe caia nas mãos ou que esteja nas estantes, dos clássicos aos chamados modernos.

Há algo que não poderia ser mais evidente: o equívoco de forçar o aluno a ler, por obrigação, um livro que ele não escolheu. E que, em princípio, pode até rejeitar. Essa, seguramente, é a forma mais eficaz de torná-lo um não-leitor, repetindo a expressão que usamos acima.

Se houver uma lista com vários títulos, portanto, é imprescindível expor qual o conteúdo e o estilo de cada livro. E, mais do que isso, promover um debate entre professores e alunos sobre esses conteúdos.

Isso seria uma forma – inclusive – de provocar uma apreciação salutar sobre literatura, que irá servir como método para incentivar o interesse pela leitura.

Aos alunos poderia ser ainda disponibilizado o direito de expor suas avaliações sobre livros que eventualmente já tenham lido. Isso aguçaria mais ainda, de maneira leve e receptiva, o interesse por literatura.

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O Brasil que não lê fica atrás de outros países

O hábito da leitura no Brasil está bem atrás de muitos países. Segundo o ranking internacional, o Brasil ficou na desonrosa 52ª posição entre 57 países analisados.

O estudo PIRLS, que avalia a compreensão de leitura de crianças do 4º ano do ensino fundamental, mostrou que o Brasil obteve 419 pontos, enquanto a média global de referência é de 500 pontos.

Países como Cingapura (587 pontos), Irlanda (577) e Hong Kong (573) lideram o ranking de bons índices de leitura.

Além disso, em relação aos hábitos de leitura, embora os brasileiros leiam, em média, apenas 4,96 livros por ano, apenas 2,43 são lidos por completo.

Enquanto isso, países como Finlândia e Canadá obtêm uma média de 14 livros por ano, e a Coreia do Sul registra 10 livros anuais.

A verdade por trás das prateleiras

Segundo um levantamento de 2019, o Brasil se situava entre os 10 países que mais liam no mundo, ocupando a 8ª posição.

Mera ilusão escondida nas estantes: essa pesquisa considerava apenas a compra de livros, sem avaliar a leitura efetiva.

Por sinal, é um cenário que sempre se vê (ou pelo menos se via) nas chamadas feiras de livros: sempre repletas de pessoas vendo e comprando livros. Em muitos casos, para deixar apenas nas estantes…

Se fosse o hábito da leitura reinando, as feiras sempre repletas seriam um sinal positivo. Mas a constatação realista é que, habitualmente, se reduzem a um compromisso social a título de lazer, encontros para bate-papo ou mera diversão em finais de semana.

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Bons escritores para poucos leitores

Ninguém pode se queixar da qualidade dos escritores brasileiros, com presenças como a do próprio João Ubaldo Ribeiro, Aluísio Azevedo, Mário de Andrade, Nelson Rodrigues, Rubem Fonseca, Ariano Suassuna, Clarice Lispector, Cora Coralina e Jorge Amado (entre muitos outros), sem contar o consagrado Machado de Assis, praticamente uma unanimidade como grande entre os grandes.

A literatura brasileira se caracteriza por uma identidade única e vibrante, mas sua presença internacional ainda enfrenta desafios.

Comparada a países como França, Estados Unidos e Reino Unido, onde há uma forte tradição literária e um mercado editorial consolidado, a literatura brasileira ainda busca maior reconhecimento global.

No entanto, há alguns avanços significativos. A Eslováquia, por exemplo, é um dos países que mais traduz obras brasileiras per capita, com autores como Machado de Assis, Jorge Amado e Conceição Evaristo sendo amplamente lidos.

Além disso, iniciativas como o site Praça Clóvis ajudam a mapear e a divulgar a produção literária contemporânea do Brasil, promovendo reflexões sobre sua relevância cultural.

A internacionalização da literatura brasileira depende de fatores como tradução, políticas culturais e percepção global.

Embora o Brasil tenha uma rica tradição literária, a circulação de suas obras no exterior ainda é limitada em comparação com países que investem fortemente na exportação de sua literatura.

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Obstáculos para a literatura brasileira no mundo

Embora conte com excelentes escritores, o Brasil, como se sabe, nunca obteve um Prêmio Nobel, o que muitos atribuem ao obstáculo da língua, que seria difícil de ser traduzida ou compreendida.

A realidade, no entanto, é que a alegada dificuldade de tradução perde o sentido quando há vários autores brasileiros que tiveram seus livros traduzidos para vários idiomas.

Jorge Amado, por exemplo, foi o primeiro brasileiro a figurar na lista de bestsellers do New York Times, com seu primeiro livro, publicado em 1945, traduzido para o inglês.

Além disso, suas obras tiveram grande impacto na Europa, incluindo traduções para o romeno, uma vez que fatores ideológicos e de mercado influenciaram a receptividade de seus livros.

E está longe de ser apenas isso. Em 1996, Amado entrou para o Guinness Book como o autor brasileiro mais traduzido. Suas obras foram publicadas em nada menos que 50 idiomas, alcançando leitores em diversos países.

Mas Jorge Amado não é o único a ser traduzido e lido no exterior. Entre outros escritores que tiveram grande repercussão internacional estão Milton Hatoum, cujas obras foram traduzidas para 17 idiomas, e Bernardo Carvalho, que lançou Nove Noites em 11 países.

Paulo Coelho, que nunca alcançou prestígio junto aos críticos acadêmicos e intelectuais, teve seu livro O Alquimista registrado no Guinness Book como o mais traduzido do mundo. Ele estaria disponível, segundo o noticiário, em cerca de 80 idiomas.

Lógico que a lista é bem maior do que essa que apresentamos, embora ainda precise se ampliar muito mais em âmbito global.

De qualquer modo, cabe a pergunta: por qual razão, com esse prestígio internacional e um número altamente expressivo de traduções, o Brasil nunca obteve um prêmio Nobel de Literatura?

O que você, leitor(a), que nos acompanhou nesse balanço, tem a dizer sobre isso?

Deixe a sua opinião no formulário mais abaixo.

Sobre o Autor

Gerson Menezes
Gerson Menezes

Empreendedor digital com sites e com canais no YouTube de várias modalidades, Gerson Menezes decidiu reestruturar totalmente seu antigo site PegSeuEbook para focar em livros digitais cujo objetivo principal é a motivação para a transformação na vida das pessoas. Uma de suas prioridades é motivar as pessoas a descobrirem o potencial para a conquista de uma melhor condição de vida, em seu sentido mais amplo possível. (Leia mais sobre o Escritor no Menu do Rodapé deste site)

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