Como aprender a ler com prazer
É lógico que, ao lado de uma gata de lindas pernas, vai ficar mais fácil… Ou mais difícil, por falta de concentração. Agora, falando sério: o brasileiro tem que saber como aprender a ler com prazer.
Do jeito que andam as coisas, fica até perigoso classificarem como machismo essa brincadeira com a expressão lindas pernas.
Mas, novamente falando sério…
… Se você ainda não leu, leia o nosso artigo explicando por que os brasileiros não leem. Aí vai perceber o quanto esse papo é sério.
O Brasil novamente se situa no ranking negativo quando o assunto é baixíssimo índice de leitura.
Perde feio para muitos países. E um, entre vários motivos, é que o brasileiro não sabe como aprender a ler com prazer.
Um desses motivos está nas escolas. E não é culpa dos professores, mas do arcaico sistema de ensino.
Além disso, é preciso reconhecer: há muitas décadas o sistema educacional público no Brasil tem sido encarado com baixíssima prioridade pelos governantes.
Essa situação piorou ainda mais depois de 2018, quando ensino se transformou em foco de disputa ideológica.
Mas não é disso que queremos falar. Porque isso é papo para outra discussão, que não se encaixa nas diretrizes do nosso site.
Neste site, a prioridade é incentivar a leitura. E ajudar a compreender por que isso é levado tão pouco a sério no Brasil.
Costumamos alertar, nessas ocasiões, para uma entrevista do escritor João Ubaldo Ribeiro (1941/2014).
De forma precisa, ele contextualizou um desses motivos pelos quais o brasileiro precisa descobrir como aprender a ler com prazer.
Mas o fato é que o brasileiro precisa de muita ajuda, porque o atual sistema de ensino não facilita em nada, como frisamos também no artigo citado acima.
João Ubaldo, cujos livros sempre tiveram destaque num país que lê muito pouco, referiu-se exatamente ao episódio em que um desses livros foi tema de uma prova de vestibular.
“Nem eu, que sou o Autor, conseguiria responder às perguntas sobre o meu livro”, resumiu, a certa altura, o famoso escritor.
João Ubaldo se referia ao fato de os elaboradores da prova terem se esforçado em fazer com que as perguntas se transformassem em algo dificílimo, quase indecifrável.
Em outras palavras: longe de manterem seu livro como uma leitura prazerosa, os organizadores do certame o transformaram num verdadeiro emaranhado de difícil compreensão.
É nesse ponto citado por João Ubaldo que começa o drama do arcaico e abandonado sistema de ensino público no Brasil.
Estudar não é visto como sinônimo de prazer. Nem a leitura.
Os alunos vão para a escola como uma obrigação. E chegam a festejar quando é anunciado que, por algum motivo, não haverá aula.
Já os livros adotados, muitas vezes, não priorizam o básico, que consiste em servirem como instrumento de atração pela leitura.
Professores de literatura mais esclarecidos sabem que, no caso de leitores principiantes, ou mesmo avessos ao hábito de leitura, o fundamental é que lhes seja dado o direito de escolherem assuntos que lhes interessem.
Quando esse método é utilizado, quem não gosta de ler passa a gostar. E passa a ampliar seu foco de interesse por outros temas.
Numa conversa que tivemos, já há algum tempo, com um desses professores, ele nos relatou:
– Deixei o aluno à vontade para escolher o que ele quisesse ler, sem me preocupar, de início, com a qualidade do que ele iria escolher.
Passado algum tempo, esse aluno “passou a ler tudo o que lhe caía nas mãos”.
E estabeleceu-se o clima propício para que o professor lhe indicasse o que poderia ser classificado como boa literatura, a partir de sua vivência e experiência como especialista no assunto.
As escolas, em alguns países europeus (exatamente aqueles nos quais o alto índice de leitura se destaca) não priorizam a luta pela “melhor nota”.
Em algumas dessas escolas, nem nota é exigida na fase inicial do aprendizado.
Enquanto isso, em países como Coreia do Sul e Japão, por exemplo, onde o rigorosíssimo sistema de ensino prioriza “notas sempre altas”, aprender se transforma numa verdadeira disputa.
E, acredite você ou não (porque é mesmo inacreditável), já houve muitos casos de suicídio de jovens, devido à vergonha de terem perdido essa disputa, tirando notas baixas.
É preciso cultivar o sabor do saber para aprender a ler com prazer
Que não sejamos mal interpretados: não estamos defendendo ensino ruim e desleixo com os estudos.
Ao contrário disso, defendemos ensino em que o ato de aprender se torne prazeroso. Algo que, por si só, vai diminuir, consideravelmente, o índice de notas baixas, com todas as suas nefastas consequências.
A prioridade é cultivar o prazer em aprender. Ou o sabor do saber, como dizemos sempre.
Nas boas instituições de ensino europeias, cultiva-se o hábito de as crianças gostarem de ir à escola. E elas acabam não festejando, quando – por algum motivo – as aulas são suspensas.
O que elas fazem é lamentar, por um dia sem poderem curtir o prazer de ir à escola.
E no Brasil essa festa acontece. Quem nunca viu uma criança dizer: “Ôba, hoje não vai ter aula”?
Mais uma vez, acredite ou não, nas escolas que priorizam o ensino de qualidade, esse tipo de festa é algo raro. Ou inexistente.
Pena que a alegria por ter aula não aconteça em todos os países (inclusive entre os europeus), porque criança feliz costuma resultar em adulto feliz.
Cultivar o aprendizado como algo lúdico é a grande prioridade para se conseguir bons resultados no ensino básico.
E isso, evidentemente, acaba se propagando nas etapas posteriores de aprendizado.
A partir daí, tornar a leitura como algo prazeroso transforma-se, com facilidade, na etapa seguinte.
E isso é um desdobramento natural, a partir da exata compreensão de que ler é uma atividade de fundamental importância para o desenvolvimento intelectual e cultural das pessoas.
Quando a isso se alia a sensação de entretenimento, o ciclo se completa.
E o aluno passa a ter a exata dimensão de como aprender a ler com prazer se consolida como o segredo para a construção de gerações mais preparadas para a vida.
E para o futuro de toda uma nação.
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